Durante muito tempo, viver em função dos outros foi visto como uma virtude. Ser mãe, esposa, filha exemplar. Entregar, cuidar, acompanhar. Entretanto, em algum ponto do caminho, você percebe que quase não se reconhece mais. Onde foi parar aquela mulher que sonhava alto, que escrevia no diário, que tinha planos só dela, e que pensava, “primeiro eu”?
Além disso, existe uma cobrança silenciosa para que mulheres acima dos 45 continuem exercendo todos esses papéis com perfeição — mesmo quando já não fazem mais sentido. A sociedade não oferece espaço para que elas simplesmente sejam. É como se viver para si fosse um luxo permitido apenas aos mais jovens.
Por isso, quando uma mulher decide se ouvir, o gesto pode parecer revolucionário. Começar a pensar em si, a escolher por si, a agir por si, muitas vezes vem acompanhado de críticas. Mas essa escolha não é uma rebeldia: é um retorno. Um reencontro com quem ela foi antes de ser tudo para todos.
A culpa de se priorizar
Com frequência, colocar-se em primeiro lugar soa como egoísmo. Afinal, fomos ensinadas a sermos úteis, a ceder, a fazer o bem para todos. No entanto, há um abismo entre o cuidado e a anulação. E atravessar esse abismo exige coragem — a coragem de dizer: primeiro eu.
No entanto, a culpa que aparece nesse processo não é sua. Ela foi plantada desde cedo, cultivada em olhares, frases prontas e expectativas que não foram escolhidas por você. Romper com essa lógica não é fácil, mas é libertador. A culpa precisa ser substituída por consciência.
Contudo, priorizar-se não significa abandonar os outros. Pelo contrário, é um modo de oferecer o melhor de si, sem o peso da exaustão ou da negação de si mesma. Amar os outros é mais verdadeiro quando também se ama. E dizer “não” às vezes é um profundo ato de afeto.
Liberdade vem com solidão (e tudo bem)
Quando você começa a se colocar no centro da própria vida, descobre que algumas pessoas se afastam. Algumas relações se desestruturam. Por outro lado, tudo isso abre espaço para o novo: novos vínculos, novas descobertas, novos sonhos. É nesse silêncio que você se escuta. É ali que a liberdade nasce.
Embora o silêncio possa assustar no início, ele também revela. Na ausência do barulho externo, surge o som da própria voz. É nesse vazio que muitas mulheres reencontram seus desejos esquecidos, suas vontades silenciadas, seus sonhos adiados. E isso é um renascimento.
Posteriormente, essa liberdade se transforma em rotina. As decisões são tomadas com mais autonomia, os espaços são ocupados com presença, e o medo dá lugar à clareza. Estar só deixa de ser sinônimo de abandono e passa a ser sinal de reconexão com quem você é.
Primeiro eu não é sobre descaso, é sobre autocuidado
Dizer primeiro eu não significa ignorar o mundo. Pelo contrário, significa ter energia para servir ao mundo sem se abandonar. Em outras palavras, é olhar para dentro, entender suas necessidades e criar uma vida que respeite seus limites. Não é se fechar — é se incluir.
Ao reconhecer as próprias necessidades, a mulher aprende a construir uma relação mais saudável com o tempo, com o corpo e com os outros. Essa prática exige presença diária. Não é um marco pontual, mas um processo contínuo de acolhimento interno.
Consequentemente, o autocuidado se expande para todas as áreas da vida. Ele aparece na forma como se alimenta, descansa, diz “sim” com vontade e “não” com firmeza. Colocar-se no centro é um exercício de respeito. E respeito nunca é descaso — é base sólida para qualquer troca verdadeira.
Você está pronta para dizer “primeiro eu”?
Muitas vezes, aprendemos a nos doar antes mesmo de aprender a nos ouvir. Desde cedo, nos ensinaram que o valor de uma mulher está no quanto ela é capaz de suportar. Portanto, colocar-se em primeiro lugar parece quebrar regras invisíveis. Mas será mesmo errado se escolher?
Certamente, essa virada não acontece da noite para o dia. No início, vem o medo. Em seguida, a culpa. Algumas relações mudam. Outras se afastam. Ainda assim, algo dentro de você permanece: a certeza de que está no caminho de volta para si mesma.
Além disso, assumir a escolha de dizer primeiro eu não é um gesto de ruptura com o mundo — é um reencontro com a própria essência. É compreender que o autocuidado é um ato político e que respeitar seus limites não te torna egoísta, mas inteira.
Em resumo, o que começa com um sussurro tímido pode se tornar uma voz firme. Primeiro eu. Porque quando você se coloca no centro da própria vida, o mundo ao redor também aprende a te olhar diferente.
Talvez hoje não seja o fim de um ciclo. Talvez seja só o começo do seu retorno.
Dizer ‘primeiro eu’ não é egoísmo. É o começo do amor próprio
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